Suspeita

O Islam visa consolidar sua sociedade sobre uma consciência pura e a confiança mútua, e não sobre dúvidas, suspeitas, acusações e desconfianças. Daí este versículo mencionar a quarta proibição por meio da qual o que e sagrado para as pessoas é resguardado:

"O crentes, evitai tanto quanto possível a suspeita, porque algumas suspeitas implicam pecado." (49.", 12).

O tipo de suspeita que é pecaminosa é a que atribui más intenções e ela não é permissível ao muçulmano faze-lo, ou seja, atribuir más intenções a um seu irmão muçulmano, sem justificação e provas claras. Porque a presunção primária quanto às pessoas é de que ela são inocentes, não devendo se permitir que uma mera suspeita resultasse em uma acusação a uma pessoa inocente. Com referência a isso, o Profeta (a paz esteja com ele) disse: “Evitem a suspeita, pois expressar suspeita é a forma mais mentirosa de falar." (Al-Bukari)

A fraqueza humana é tal que ninguém está livre de suspeitas e de maus pensamentos especialmente em relação àqueles com quem as relações não sejam muito boas. Entretanto, não se deve deixar levar por tais pensamentos nem passar deles para a ação, como diz a Tradição:

"Se você tem uma suspeita, não a persiga." (At-Tabarini).

AL-KARADAHAWI, Youssef. O lícito e o ilícito no Islam. São Paulo: CDIAL.

"Não vos Difameis"

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A segunda dessas proibições é contra o lamzs, que literalmente significa "transpassando e apunhalando".

Aqui é usado para significar a crítica, pois como a pessoa que critica as falhas dos outros, está fazendo algo parecido com transpassá-las com uma espada ou apunhalando-as com uma adaga - e como talvez a ferida aberta pela' língua ser a mais duradoura. Certo poeta disse:

As feridas das lâminas podem fechar-se um dia, Mas as feridas da língua? Jamais podem sarar.

A forma de proibição expressa neste versículo é muito sutil, dizendo: "Não vos difameis", isto é, um ao outro. Pois o Alcorão considera a comunidade de muçulmanos como um só corpo em suas preocupações e responsabilidades mútuas, de modo que quem quer que difame seu irmão, estará na verdade difamando a si mesmo.

"Nem vos Motejeis com Apelidos Ofensivos"

Uma forma de difamação é o uso de apelidos ultrajantes para chamar outras pessoas, do tipo que destacam algum defeito e são usados para debochar e rebaixar alguém. Um muçulmano não deve chamar seu irmão por um nome que seja ofensivo a ele, causando-lhe desse modo dor e atropelando os sentimentos de fraternidade islâmicos.

AL-KARADAHAWI, Youssef. O lícito e o ilícito no Islam. São Paulo: CDIAL.

"Não Deixeis que Alguns Zombem de Outros"

Nos versículos 10-12, da 49." Surata, Deus prescreveu uma quantidade de coisas relacionadas com a preservação da irmandade e em que isto implica em relação ao que deve ser tido como sagrado entre os seres humanos,

A primeira dessas coisas é a proibição da zombaria, do expor ao ridículo e do caçoar de outras pessoas, O crente que teme a Deus e espera alcançar o Paraíso na Outra Vida, não caçoará de nenhum indivíduo nem tornará as pessoas objeto de suas anedotas, zombaria, sarcasmo ou galhofa, porque isto não é senão orgulho, arrogância e desprezo para com os outros, bem como ignorância da escala com que Deus mede a bondade, Diz Deus, o Altíssimo:

"Ó crentes, que nenhum povo zombe do outro; é possível que (os escarnecidos) sejam melhores do que eles (escarnecedores). Que tampouco nenhuma mulher zombe de outra, porque é possível que esta seja melhor do que aquela." (49.", lI).

Pela escala de Deus, a bondade é medida pela fé, sinceridade e qualidade do relacionamento com Deus, o AItíssimo, e não pela aparência física, riqueza ou poder, Disse o Profeta (a paz esteja com ele):

"Deus não olha para as vossas aparências físicas ou vossas riquezas, mas Ele olha para os vossos corações e os vossos atos." (Muslim).

Como, então, pode ser permissível a uma pessoa rir do defeito físico de alguém, de sua deformação ou de sua pobreza? Relata-se que 'Abdullah Ibn Mas'ud tinha pernas finas e fracas. Certa vez, ao ver a sua perna descoberta, algumas pessoas riram, ao que o Profeta (a paz esteja com ele) disse:

"Estais rindo da fragilidade das pernas dele? Por Ele em Cuja Mão está a minha alma, na escala de Deus' elas são mais fortes que o monte Uhud." (Muslim)

O Alcorão fala de como idólatras criminosos costumavam debochar dos fiéis muçulmanos, especialmente dos que eram fracos e oprimidos como Bilal e 'Arnmar, como as mesas serão invertidas no Dia do juízo Final ocasião em que os zombadores serão zombados:

"Sabei que os pecadores burlavam-se dos crentes. E quando passavam junto a eles, piscavam os olhos uns aos outros; e quando voltavam aos seus, voltavam ridicularizando (os crentes); e quando os viam, diziam: Em verdade, estes estão extraviados! Embora não fossem destinados a ser seus guardiões. Porém, hoje, os crentes riem-se dos incrédulos." (Surata 83 : 29-34).

AL-KARADAHAWI, Youssef. O lícito e o ilícito no Islam. São Paulo: CDIAL.

O Acerto de Disputas

Enquanto incumbe aos próprios contendores o acerto de suas diferenças de maneira fraterna, a comunidade muçulmana também tem uma responsabilidade neste sentido. Como a sociedade muçulmana se baseia sobre o cuidado e a cooperação mútuos, ela não pode permanecer passivamente a observar membros seus que discutem ou discordam entre si, permitindo que o conflito se agigante.

É da responsabilidade daqueles que estão investidos de autoridade e que granjeiam respeito da comunidade, se oferecerem para conciliar as coisas, com absoluta imparcialidade e sem se permitirem envolvimento emocional com um ou outro lado. Diz Deus, Altíssimo:

"Sabei que os Crentes são irmãos; reconciliai, pois, entre os vossos irmãos e temei a Deus para que sejais compadecidos," (49.", 10), o Profeta (a paz esteja com ele), explicando o mérito de tal mediação e o perigo de conflito e hostilidade, disse:

"Ouereis que vos informe de algo ainda melhor em grau que o jejum, a caridade e a oração? Diante da resposta: Certamente, ele disse: É o consertar as coisas desacertadas entre as pessoas, pois incitar as pessoas à disputa é como navalha. E não quero dizer que ela raspa os pelos mas que ela corta a religião." (Relatado por At-Tirmidhi e outros). Por Yoyssef AL KARADAHAWI

OS PRINCÍPIOS ISLÁMICOS RELATIVOS AO LíCITO E AO ILíCITO

1) A Base das coisas é a permissibilidade;

2) Tomar lícito e o proibir são prerrogativas exclusivas de Deus ;

3) Proibir o lícito e permitir o ilícito é o mesmo que cometer politeísmo ;

4) A Proibição de certas coisas se devem ao fato de serem elas impuras e prejudiciais;

5) O que é lícito é suficiente, enquanto que o que é ilícito é supérfluo;

6) Aquilo que conduz ao ilícito é também ilícito ;

7) Considerar o ilícito como sendo lícito é ilícito (Proibido) ;

8) Boas Intenções não Justificam a prática do ilícito;

9) Aquilo que for duvidoso deve ser evitado;

10) O Ilícito é Proibido a todos por igual;

11) A necessidade estabelece exceções;

AL-KARADAHAWI, Youssef. O Lícito e o ilícito no Islam. 1991.